Dando prosseguimento a nossa coluna AviationExperience, onde o objetivo é trazer um pouco do conhecimento daqueles que já contribuíram muito para o desenvolvimento de outros profissionais na aviação , apresentamos hoje a entrevista com uma pessoa muito especial que trabalhou na formação e qualificação de vários outros colegas da área de manutenção aeronáutica e garantiu que serviços complexos de manutenção fossem realizados garantindo a segurança de voo. Estamos falando de Fernando
Amim dos Santos, Químico , 64 anos de idade e 29.5 anos dedicados ao trabalho na manutenção de aeronaves.
Atualmente , Amim, como ficou mais conhecido pelos amigos , está aposentado da aviação , prestando
consultorias e ministrando aulas.
Fernando Amim ao lado de um quadro que traz lembranças de uma época de ouro da aviação brasileira.
Amim, iniciou
sua carreira profissional como
estagiário técnico em Química na oficina de motores da antiga VARIG S.A localizada na Ilha do
Governador , no Rio de Janeiro.
Ele nos
conta:
- Quando estava terminando o curso
técnico de Química o meu professor que também era Engenheiro na Varig, me
convidou para ir trabalhar com ele, com o objetivo inicial de ajudá-lo a montar
a oficina de motores. Inicialmente como estagiário e quando eu terminasse o
curso seria promovido a técnico químico.
Ele ,
conforme já dito, passou inicialmente pela oficina de motores na montagem da
seção de limpeza de peças dos motores das aeronaves. Nesse setor, era preciso
controlar as soluções químicas necessárias para a limpeza de vários tipos de peças
que eram fabricadas de diversos tipos de ligas metálicas. Essas soluções
precisavam ser aquecidas e havia uma caldeira onde água
desta deveria ser constantemente controlada.
- O processo de limpeza gera as águas
residuais e tivemos que instalar uma estação de tratamento que
eliminasse estes poluentes para evitar contaminação e poluição da Baia de Guanabara. Os vapores gerado destas soluções tinham que ser lavados e a água utilizada tratada.
Quando iniciamos as revisões dos motores apareceram outras atividades tais como:
Lubrificantes (óleos e graxas) que por
dificuldade de importação e estoque precisávamos encontrar produtos
equivalentes no mercado, diz Fernando com tom de saudosismo e ainda acrescenta:
-No processo de inspeção das
peças, os produtos usados (líquidos penetrantes, partículas magnéticas e
ultrassom por imersão) precisavam ser controlados.Os revestimentos aplicados
por plasma spray, a cada peça , precisava de um acompanhamento direto dos corpos
de prova para garantir sua qualidade. Depois , na Seção de galvanoplastia, era
necessário controlar as soluções e os processos.
Amim
ainda completa:
-Com a montagem do hangar e consequentemente com
a chegada dos primeiros aviões para manutenção na Área Industrial (Hangar VARIG) , iniciaram-se as revisões dos aviões acrescentando
limpeza, selagem, pintura e lubrificação das aeronaves. Na oficina de rodas,
limpeza e inspeção por líquidos penetrantes, completavam o processo.
Hangar da VARIG na década de 80 onde Fernando Amim trabalhou.
Fernando Amim teve uma
evolução na sua carreira passando a Técnico químico responsável perante ao
CRQ(Concelho Regional de Química) e logo a seguir como Químico responsável na
empresa.
Fernando
Amim atuava também ministrando treinamento tais como : cursos de limpeza e
preparação de pecas, selagem, corrosão, lubrificantes e lubrificação e pintura,
.para os funcionários que atuavam nestas áreas.
Amim
acredita que a atividade do Técnico de Química ainda tenha uma longa vida na
aviação, pois todos estes processos descritos acima são atividades que
necessitam de um profissional da área.
Durante
esses 29,5 anos na aviação Amim se deparou com muitos desafios e diz
que trabalhar com aeronaves foi muito
gratificante, logo se sentia quase sempre feliz por fazer o que gostava, mas ficou
muito infeliz quando a VARIG entrou em falência em 2006.
Nessa longa caminhada na aviação, ele
lembra uma passagem em que a adrenalina correu solta:
- Foi quando fui incumbido de ir para Recife
com uma equipe de limpeza para fazer uma descontaminação da linha de óleo de um
motor do 767 que fazia Recife Lisboa e o tanque que aquecia a solução precisava
de 220v, pois a bomba que injetava o produto pela tubulação de óleo funcionava com
esta voltagem, e no pátio do aeroporto não tinha essa tensão disponível. Tivemos que levar a aeronave para o pátio da aeronáutica que ficava do outro lado da pista, o que demorou
muito, e a aeronave estava programada para sair às 18h. Conclusão, atrasamos o
voo.
Fatos como
esse citado são verdadeiros desafios que dependem de muitos fatores envolvidos
para que tudo dê certo. No final o mais importante foi garantido que é a segurança do voo.
Perguntamos ao Amim, que conselho
ele daria para os profissionais da aviação e para aqueles que almejam seguir
uma carreira sólida nesta área e ele nos respondeu:
- A primeira coisa é aprender a gostar desta
agitação, pois a/c parada é muito prejuízo. E outra é muita dedicação e estudo
por envolver vários ramos da química.
Perguntamos também ao Fernando
Amim como ele vê no campo educacional, a disseminação do conhecimento sobre a aviação.
Perguntamos se ele percebe que as instituições de ensino demonstram interesse por
essa área, mas Amim disse que pelo
menos no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) , onde ele atua como professor , não
nota que haja tal interesse, mas acredita
que seja por desconhecimento. Já por parte dos alunos ele percebe que há
interesse sim, pois quando ele cita casos da
experiência dele na aviação, muitos perguntam como poderiam entrar neste
ramo.
Finalizando a entrevista ,
perguntamos o que ele, como profissional que foi da aviação, achava que deveria ser feito no Brasil para que esta
atividade de manutenção aeronáutica fosse
mais atrativa para novos profissionais;
- Penso que as empresas brasileiras não são focadas em montar um centro
de manutenção como tinha a VARIG, mas deveriam ser. O governo deveria incentivar as empresas
neste sentido, pois é onde se tem contato com o top da tecnologia.
Agradecemos ao nobre Fernando
Amim por compartilhar um pouco da sua vasta experiência na manutenção de aeronaves os profissionais e futuros profissionais da aviação
civil brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Contribua para o desenvolvimento da aviação civil brasileira.Deixe aqui seu comentário.