Powered By Blogger

domingo, 29 de outubro de 2017



Dando prosseguimento a nossa coluna AviationExperience, onde o objetivo é trazer um pouco  do conhecimento daqueles que já contribuíram muito para o desenvolvimento de outros profissionais na aviação , apresentamos hoje a entrevista com uma pessoa muito especial que  trabalhou na formação e qualificação de vários outros colegas da área de manutenção aeronáutica e garantiu que serviços complexos de manutenção fossem realizados garantindo a segurança de voo. Estamos falando de Fernando Amim dos Santos, Químico , 64 anos de idade e 29.5 anos dedicados ao trabalho na manutenção de aeronaves. Atualmente , Amim, como ficou mais conhecido pelos amigos , está aposentado da aviação , prestando consultorias e ministrando aulas.


   Fernando Amim ao lado de um quadro que traz lembranças de uma época de ouro da aviação brasileira. 



Amim, iniciou sua carreira profissional  como estagiário técnico em Química na oficina de motores da  antiga VARIG S.A localizada na Ilha do Governador , no Rio de Janeiro.

Ele nos conta: 
- Quando estava terminando o curso técnico de Química o meu professor que também era Engenheiro na Varig, me convidou para ir trabalhar com ele, com o objetivo inicial de ajudá-lo a montar a oficina de motores. Inicialmente como estagiário e quando eu terminasse o curso seria promovido a técnico químico.



Ele , conforme já dito, passou inicialmente pela oficina de motores na montagem da seção de limpeza de peças dos motores das aeronaves. Nesse setor, era  preciso controlar as soluções químicas necessárias para a limpeza de vários tipos de peças que eram fabricadas de diversos tipos de ligas metálicas. Essas soluções precisavam ser aquecidas e havia uma caldeira onde água desta  deveria ser constantemente controlada.

- O processo de limpeza gera as águas residuais e tivemos que instalar uma estação de tratamento que eliminasse estes poluentes para evitar contaminação e poluição da Baia de Guanabara. Os vapores gerado destas soluções tinham que ser lavados e a água utilizada tratada. Quando iniciamos as revisões dos motores apareceram outras atividades tais como: Lubrificantes (óleos e graxas) que por dificuldade de importação e estoque precisávamos encontrar produtos equivalentes no mercado, diz Fernando com tom de saudosismo e ainda acrescenta:



-No processo de inspeção das peças, os produtos usados (líquidos penetrantes, partículas magnéticas e ultrassom por imersão) precisavam ser controlados.Os revestimentos aplicados por plasma spray, a cada peça , precisava de um acompanhamento direto dos corpos de prova para garantir sua qualidade. Depois , na Seção de galvanoplastia, era necessário controlar as soluções e os processos.

Amim ainda completa:

-Com a montagem do hangar e consequentemente com a chegada dos primeiros aviões para manutenção na Área Industrial (Hangar VARIG) , iniciaram-se as revisões dos aviões acrescentando limpeza, selagem, pintura e lubrificação das aeronaves. Na oficina de rodas, limpeza e inspeção por líquidos penetrantes, completavam o processo.

                     Hangar da VARIG na década de 80 onde Fernando Amim trabalhou. 



Fernando Amim teve uma evolução na sua carreira passando a Técnico químico responsável perante ao CRQ(Concelho Regional de Química) e logo a seguir como Químico responsável na empresa.


Fernando Amim atuava também ministrando treinamento tais como : cursos de limpeza e preparação de pecas, selagem, corrosão, lubrificantes e lubrificação e pintura, .para os funcionários que atuavam nestas áreas.

Amim acredita que a atividade do Técnico de Química ainda tenha uma longa vida na aviação, pois todos estes processos descritos acima são atividades que necessitam de um profissional da área.

Durante esses 29,5 anos na aviação Amim se deparou com muitos desafios e diz que trabalhar com aeronaves foi  muito gratificante, logo se sentia quase sempre feliz por fazer o que gostava, mas ficou muito infeliz quando a VARIG entrou em falência em 2006.


Nessa longa caminhada na aviação, ele lembra uma passagem em que a adrenalina correu solta:

- Foi quando fui incumbido de ir para Recife com uma equipe de limpeza para fazer uma descontaminação da linha de óleo de um motor do 767 que fazia Recife Lisboa e o tanque que aquecia a solução precisava de 220v, pois a bomba que injetava o produto pela tubulação de óleo funcionava com esta voltagem, e no pátio do aeroporto não tinha essa tensão disponível. Tivemos que levar a aeronave para o pátio da aeronáutica que ficava do outro lado da pista, o que demorou muito, e a aeronave estava programada para sair às 18h. Conclusão, atrasamos o voo.

Fatos como esse citado são verdadeiros desafios que dependem de muitos fatores envolvidos para que tudo dê certo. No final o mais importante foi garantido que é a segurança do voo.

Perguntamos ao Amim, que conselho ele daria para os profissionais da aviação e para aqueles que almejam seguir uma carreira sólida nesta área e ele nos respondeu:

      - A primeira coisa é aprender a gostar desta agitação, pois a/c parada é muito prejuízo. E outra é muita dedicação e estudo por envolver vários ramos da química.



Perguntamos também ao Fernando Amim como ele vê no  campo educacional,  a disseminação do conhecimento sobre a aviação. Perguntamos se ele percebe que as instituições de ensino demonstram interesse por essa  área, mas Amim disse que pelo menos  no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) , onde ele atua como professor , não nota que haja tal interesse, mas acredita  que seja por desconhecimento. Já por parte dos alunos ele percebe que há interesse sim, pois quando ele cita casos da  experiência dele na aviação, muitos perguntam como poderiam entrar neste ramo. 



Finalizando a entrevista , perguntamos o que ele, como profissional que foi da aviação, achava  que deveria ser feito no Brasil para que esta atividade de manutenção aeronáutica  fosse mais atrativa para novos profissionais;



- Penso que as empresas brasileiras não são focadas em montar um centro de manutenção como tinha a VARIG, mas deveriam ser.  O governo deveria incentivar as empresas neste sentido, pois é  onde se tem contato com o top da tecnologia.
 

Agradecemos ao nobre Fernando Amim por compartilhar um pouco da sua vasta experiência na manutenção de aeronaves  os profissionais e futuros profissionais da aviação civil brasileira. 

                                                                                 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Contribua para o desenvolvimento da aviação civil brasileira.Deixe aqui seu comentário.