Nos últimos anos o Brasil vinha
demostrando ter um grande potencial de crescimento tendo seus dados estatísticos
revelado números surpreendentes no campo econômico, mas devido a falta de uma
política industrial mais contundente, a boa fase não se consumou e hoje passamos
não só por uma crise econômica, mas também por uma grande crise institucional
que leva o país a entrar num cenário sombrio no próximo ano. Como não podia
deixar de ser, o elemento humano sofre essas influências quer onde ele esteja .
Na aviação não temos como ficar
alheios a esse problema principalmente por
uma série de erros estratégicos que já são carregados há muito tempo. O governo
brasileiro não possui um programa
específico para desenvolvimento da aviação e nem uma política de formação de
mão de obra especializada. Hoje um dos
maiores tormentos dos RHs das companhias aéreas e das MROs ( empresas de
manutenção de aeronaves) é encontrar mão
de obra qualificada ( Certificada) e com experiência. Se já não bastasse essa dificuldade, há também
o grande esforço para manter a operação das empresas com um mínimo de
quantitativo de funcionários especializados para que se garanta a segurança de
voo. Essa equação é um pouco dura de ser elaborada para que se mantenha o resultado esperado. Mesmo
com os quadros reduzidos de funcionários, a empresa tem que manter os prazos estabelecidos com os clientes e os
serviços devem ser executados de forma eficiente e segura. Como não há milagres, nessas
situações o profissional de manutenção acaba sofrendo pressões que podem
afetá-lo no seu dia-a-dia e trazer sérias consequências. Com o acúmulo natural
de serviço devido a redução de pessoal, a carga de trabalho acaba sendo
duplicada e, se não houver uma boa supervisão e uma inspeção eficiente, muitos
erros podem ocorrer e causar incidentes ou até mesmo acidentes. Excesso de
horas extras podem gerar a fadiga e
interferir na capacidade analítica do
profissional. O Brasil precisa rever a politica de aviação para que tenhamos
uma luz no final do túnel, pois do jeito que está podemos chegar em 2016/2017
com problemas muitos sérios que colocarão o nível de segurança em situação crítica
podendo ser rebaixado internacionalmente, assim como já foi no campo do
investimento recentemente. Hoje o Brasil ainda está bem classificado em nível
de segurança operacional, mas os números estão ficando cada vez mais críticos. O
efeito cascata dentro de uma organização de manutenção aeronáutica ou de uma companhia
aérea se reflete rapidamente quando a economia brasileira não vai bem. A falta de um apoio do
governo na formação de profissionais da aviação, eleva demais o risco de
termos em breve, a manutenção de aeronaves sendo realizada por pessoas sem
capacitação, e, colocar em risco a
operacionalidade. Uma saída a meu ver seria dar incentivo fiscal às companhias que, reconhecidamente e devidamente avaliadas
pela ANAC, investissem na formação do seus próprios profissionais, pois elas
detém o know how da atividade e contribuiriam em muito para a melhora deste
mercado. Lembrando que, grande parte dos profissionais que hoje são responsáveis
pelas inspeções e liberações de aeronaves para retorno ao serviço (voo), estarão
dentro de alguns poucos anos, aposentados
e fora do mercado. Há que se pensar na renovação. Há que se pensar na
continuidade da atividade aérea tendo como principal meta a segurança de voo. É o fator econômico o único a interferir neste cenário? Não, não é. Mas
contribui muito. A busca pela redução de custos nas empresas devido ao cenário econômico tem que ser repensada e avaliada pela ótica da segurança de voo para que todos possam viajar com tranquilidade e em segurança.